domingo, 17 de agosto de 2008

Cronica de uma mãe sobrevivente

Escrevi estas idéias já a algum tempo.
Hoje tive vontade de saber a opinião de vocês.

Crônica de uma mãe sobrevivente!

17/8/2008



Hoje pela manhã, caminhando pelo meu bairro, pensava nas brutalidades ou bestialidades ocorridas nestes últimos tempos.
Na calçada, cruzo com duas pessoas comentando sobre o assassinato da avó do rapaz drogado, e de sua empregada. Ambas degoladas!
Percebo novamente um pensamento que me causa arrepios: agradeço por meus filhos não haverem me matado!!!!!!!
O que estará acontecendo?
Será que é da natureza humana? Ou que sobrevivo por pura sorte, ou ainda melhor, serei eu uma mãe competente.
Alias, porque será que competência raramente é noticia????
Realmente é chocante, mas penso-me uma vitoriosa! Afinal estou viva......
Faço então aqui uma saudação veemente a todas as mães que continuam vivas, felizes, pois afinal de contas, nunca sabemos com quem estamos morando, do que nossos próprios filhos são capazes.
E a Suzanne? Aquela que apenas queria continuar namorando....
O Gustavo, rapaz drogado, que só não matou a mãe por não estar em casa.
Pois é assim que nos são apresentados pela imprensa.
Ponho-me a pensar, tentar entender alguma coisa, mas confesso que minha compreensão é altamente limitada, principalmente para atitudes de tamanha violência.
Quando fui convidada a escrever um texto para esta revista, pensei em algo sobre a nobre arte de ensinar psicologia, pois sou professora de graduação e recebo alunos de 1º ano, cheios de expectativas, desejos de aprender, além daqueles que crêem que durante o curso serão capazes de reconhecer e solucionar seus próprios problemas. Ledo engano.....
Ao mesmo tempo, já pensaram no tamanho da responsabilidade? Uma das primeiras coisas que tento informá-los é de que nossa matéria prima é a angustia, e que a meu ver, psicologia é, muitas vezes, mais difícil e de maior responsabilidade que medicina, pois lidamos todo o tempo com subjetividades, desconhecido e questões de elaboração interna, sem tempo determinado.
Deverão agora estar pensando: “Mas o que tudo isso tem a ver com o começo do texto, com os Gustavos e Suzanes que existem por ai?”?
Respondo: Que tamanho deve ser a angustia do Gustavo, que precisa se drogar desta forma?
Qual compreensão da angustia que Suzane vive? Será que ela tem alguma?
Capacidade de elaboração interna? Provavelmente nenhuma!
Muitas vezes recorro a minha observação do comportamento dos cachorros que tenho, que em principio não pensam, mas jamais matariam a avó ou os pais, por instinto. A menos, se forem realmente ameaçados! Qual será então a questão?
Voltando as mães sobreviventes, das quais sou uma delas, estamos todas de parabéns, pois certamente temos a capacidade de viver em meio a toda uma situação de responsabilidade, de ameaça latente, mas mesmo assim, continuamos cumprindo nossa função.
Mesmo dentro de um ambiente muitas vezes tumultuado e hostil. Mas nunca tão hostil a ponto de sermos vitimas de nossas próprias crias.(assim espero)
Creio que o parágrafo acima cabe também no exercício do magistério, pois de uma certa maneira, ao tentar transmitir aquilo que sei, pela minha experiência pessoal e profissional, não deixo de ser enquanto professora, uma espécie de “mãe” para meus inúmeros alunos, pois sabemos muito bem, que transmitir é uma forma de maternagem e obviamente sei, que nem todos os “filhos” gostam da mãe que tem, afinal de contas, nas duas situações, têm que aceitar a professora que lhes é imposta.
Seja pela família em que nasceu, ou pela instituição que pode estar, sendo que, muitas vezes não é aquela que gostaria...
Portanto, encerro estas idéias, parabenizando novamente todas as mães (e professores) sobreviventes, pois estamos, a todo o momento correndo sérios riscos, riscos de verdade!

Em tempo, ao corrigir, depois de algum tempo, este texto, “fui assassinada” pela instituição onde ministrava aulas, sem a menor justificativa: meus serviços profissionais foram dispensados, e minha voz calada. Não tenho mais a quem transmitir minha experiência acadêmica. Minha voz emudeceu. Não tenho mais ouvintes atentos. Ao menos por enquanto. Dia 23 de dezembro, recebo um frio telegrama comunicando minha dispensa. Crueldade. Meus alunos ficaram sem mim. Doloroso, foi ficar sem eles.

4 comentários:

Blog do Beagle disse...

Miriam, ao tempo do crime cometido pela Suzane, outros chocaram a sociedade e muitos deles que viraram noticia foram praticados por estudantes de direito. Meu estagiário me disse que os pais dele passaram a trancar a porta do quarto para dormir, só para provocá-lo. Depois de sua reflexão eu me pergunto se era, de fato, brincadeira. Que bom que a instituição de ensino não a deixou falar. Ela não merecia você e sua competência. Muitas bjkªs de coração. Elza

Claudinha ੴ disse...

Olá! Agradeço sua visita e venho conhecer ser espaço!
A princípio me deparo com um reflexão, uma crítica concreta e com uma problemática real que nos aflige. Uma pena a perda do cargo, mas há males que vem para o bem!
Beijo!

J.F. disse...

Mi,
Ando meio preguiçoso para escrever. Mas, estou aqui. Essa questão de "segurança" de pais e professores é importante. Em casa e nas aulas (fui professor por 19 anos) procuramos sempre transmitir o melhor de nós. Infelizmente, "lá fora", às vezes, é onde eles são corrompidos, sem que a gente saiba. O que nos resta é, sempre, passarmos bons exemplos. Mesmo sabendo que, longe de nós, outros procurarão influenciá-los e alterar toda a educação que lhes demos. Fazer o que, não é mesmo? Acho que só isso mesmo: continuarmos como bons exemplos e transmitirmos boas coisas. E torcer para que sejamos mais fortes que as influências externas. Lamento pela sua perda das aulas.
Abração.

Blog do Beagle disse...

Miroca, atualiza o blog, por favor!!!!!!!!! Bjkª. Elza